- Alô, Heloísa? tudo bom?
- Tudo, quem fala?
- É o Jorge, moça! Já esqueceu de mim?
- Oi, Jorge! não esqueci, só não tinha mais seu número agendado.
- Quanto tempo, não?
- Sim! Como anda?
- Bem. Quer dizer… não sei responder isso.
- Como assim? Aconteceu alguma coisa?
- Não se preocupa, não sou portador de más notícias
- O que foi, então?
- Poxa, helô, eu sei que tem tempo que não nos falamos e eu disse que ia deixar tudo pra lá… mas lembra de quando nós estavamos juntos?
- Pô, Jorge, lembro, mas o que isso tem a ver?
- Sabe o que é, helô? Lembra de quando as coisas estavam ficando mais sérias e eu te pedi em namoro? Foi ali que a gente se afastou. Você não queria compromisso.
- Eu lembro. Não sei onde você quer chegar, mas diga!
- Eu quero te dizer o que não te disse.
- Como assim?
- Depois daquele dia, fiquei pensando no que te dizer e achei as palavras certas. Achei um jeito de dizer como me sentia. Sei que não vai mudar nada, mas eu queria pelo menos poder te dizer.
- Isso é um pouco estranho, Jorge. não sei se é boa idéia.
- Me deixa pelo menos falar.
- Bom, o que há de se fazer? Agora estou curiosa.
- Naquele momento você me disse que tinha medo de me machucar, de se machucar, que você ainda não tinha curado seus traumas.
- É verdade. Eu estava sendo sincera.
- Eu devia ter dito que nós não deveríamos medir a altura do tombo, que se pulássemos juntos, poderia acontecer o fantástico, poderia ser que não houvesse fundo, ou que criássemos asas, ou até, se houvesse chão, Deus se apiedasse de nós e amortecesse nossa queda, e não houvessem machucados… está me ouvindo?
- Claro! Continue!
- Então, continuando…e eu deveria dizer que eu nunca poderia te garantir nada disso, a única certeza que poderia te dar é que mesmo encontrando o chão duro, por mais forte que fosse o impacto, teríamos aproveitado a emoção e a maravilha da queda, e que nós conseguiríamos nos levantar, seguir andando, e mais tarde rir do tombo e a qualquer momento veríamos outro precipício onde talvez criássemos asas…enfim, é isso, hêlo!
- Nossa!
- Poxa, fiquei nervoso, o que achou?
- Uau, eu não sei o que te dizer…
- Seria diferente se eu tivesse te dito isso antes?
- Eu não sei como seria se você tivesse me dito isso naquele momento, sei que, agora, eu estou atordoada.
- Você aceitaria ser minha namorada se tivesse acontecido dessa forma?
- Olha, eu to confusa… mas, na verdade, eu acho que eu estava com medo, no fundo, queria que você tivesse me dito o que fazer. Ah! quer saber? Aceitaria sim.
- Nossa isso é fantástico! Isso me deixou feliz!
- Você realmente se sentiu assim de meu lado?
- Sim!
- Quer saber? O que acha de marcarmos alguma coisa, eu queria te ver. Parece que, no fim, aquela história ficou mesmo em aberto.
- Desculpa helô, não posso fazer isso.
- Como assim?
- É que eu vou casar em duas semanas.
- “Ôxe”, Jorge! Que loucura é essa? Você me liga, me diz um monte de coisas e agora fala que vai casar? Que maluquice é essa, rapaz?
- Eu só queria saber como teria sido, helô. Queria não ter que guardar tudo aquilo sem nunca ser dito.
- No fim, você é mesmo um idiota!
- No fim, sua opnião não mudou sobre mim, mas é bom saber que poderia ter mudado!
- Vai pro inferno, Jorge! Não vou perder tempo, vou desligar!
- Esper…
- *tu tu tu tu tu tu…*